Em 2021 tive a proposta de experimentação artística A memória da linha no percurso da ilha premiada com a Lei Aldir Blanc/SC, para realizar-se nos quatro primeiros meses de 2022. O trabalho resultante desta pesquisa compõe-se de desenhos realizados nas páginas de um caderno de caligrafia durante trajetos de linhas de ônibus que percorrem o entorno da Ilha de Santa Catarina, onde localiza-se grande parte da cidade de Florianópolis. A ideia foi a criação de uma espécie de glossário de linhas realizadas durante o processo de minha passagem física sobre a ilha através das linhas de transporte coletivo que as atravessa.

 

O caderno de caligrafia foi escolhido como suporte por remeter a uma das primeiras práticas educacionais de formatação do desenho: enquanto aprende-se a grafar de modo “correto” as letras com as quais formamos as palavras, inicia-se um processo de formatação do desenho, a gestualidade livre cede lugar ao pensamento da linha conformada num desenho pré-concebido.

 

Penso este trabalho como uma tentativa de deseducar o engessamento do gesto, proposto inicialmente pela alfabetização, e por conseguinte a recuperação da expressividade do desenho. Meu corpo age como parte integrante de uma espécie de sismógrafo que registra minha passagem pelo solo ao redor da ilha, criando um desenho de paisagem que se origina principalmente pelo contato e pela ação por vezes imprevisível resultante deste, em detrimento de uma prática pautada pela observação e representação a partir dela.

 

 

 

O trajeto iniciou pela praia do Santinho, localizada no bairro Ingleses. A partir deste ponto, percorri em sentido anti-horário o entorno da ilha. A primeira linha de ônibus utilizada foi a 264 - Ingleses, realizada em todo seu trajeto (desde o início da linha no Santinho até chegar no Terminal de Integração de Canasvieiras - TICAN). O percurso tem aproximadamente 12 km de extensão, dura um tempo médio de 30 minutos e possui 35 paradas do seu início até o destino final.

O segundo trajeto foi realizado entre o TICAN e a Praia Brava, através da linha 266- Praia Brava. É a linha que mais se aproxima do extremo norte da ilha. A Praia Brava é o final/início da linha, de onde se volta apenas pelo mesmo caminho por onde se chega (assim como outros pontos da ilha, incluindo meu ponto de partida inicial do trabalho). O percurso tem aproximadamente 12,9 km de extensão, com duração média de 35 minutos e 41 paradas ao total. O terceiro trajeto foi de retorno ao TICAN pela mesma linha.

O quarto trajeto foi do TICAN ao extremo norte da praia de Jurerê (limite ente Jurerê e Praia do Forte). A linha utilizada foi a  250 - Forte-Canasvieiras. O trajeto tem duração de aproximadamente 52 minutos, contabilizando 47 paradas em sua totalidade e percorrendo aproximadamente 15,2 km. O quinto trajeto partiu deste ponto (norte da praia de Jurerê) com destino ao TISAN (Terminal Integração Santo Antônio de Lisboa). A linha utilizada foi a 272 - Jurerê - TISAN. O percurso tem aproximadamente 11,7 km, uma média de 32 minutos de duração e conta com 26 paradas.

O sexto trajeto constitui-se entre o TISAN e o TICEN (Terminal Integração Centro), percorrendo cerca de 18,6 km. A linha utilizada foi a 221 - TICAN - TICEN via Mauro Ramos. O percurso dura em média 46 minutos e possui 33 paradas. Este foi o último trajeto do primeiro dia de execução do trabalho.

 

 

O segundo dia iniciou com um trajeto entre o centro de Florianópolis (TICEN) e o Terminal Integração Rio Tavares (TIRIO), através da linha 430 - TICEN - TIRIO via Costeira. Com cerca de 12,5 km de extensão, a viagem tem duração média de 32 minutos e possui 37 paradas ao total. Este foi o sétimo trajeto realizado durante a realização do trabalho.

O oitavo trajeto foi do TIRIO até a Caieira da Barra do Sul. Este é o ponto mais ao sul da ilha onde pode-se chegar de ônibus, na sua costa oeste. O trajeto é também o segundo mais longo em extensão, com cerca de 25 km, média de 1h07 de duração e 89 paradas. O nono trajeto foi realizado no sentido inverso, retornando ao TIRIO.

 

 

 

 

No terceiro e último dia de viagens pela ilha, iniciei pelo trajeto que vai do TIRIO até a Costa de Dentro. Utilizei o 563 - Costa de Dentro. É a linha que mais avança pela costa leste da ilha em direção ao sul. A duração média de percurso do trecho é de 51 minutos, contém 55 paradas e sua extensão é de 18,5 km. Este foi o décimo trajeto de ônibus, seguido pelo décimo primeiro, quando retornei para o TIRIO utilizando a linha 564 - Pântano do Sul. De lá, parti para a décima segunda viagem, em direção ao Terminal Integração Lagoa da Conceição (TILAG). A linha utilizada foi a 841 - TILAG - TIRIO, com duração média de 30 minutos e 33 paradas ao longo de seus 12,5 km de extensão.

O último percurso realizado, o décimo terceiro no total, foi do TILAG em direção ao Ingleses, retornando ao norte da ilha. A linha utilizada foi a 850 - TILAG / Rio Vermelho via Cidade da Barra. O trajeto mais longo dos utilizados, possui cerca de 26 km, dura em média 1h08 e contém 69 paradas até o ponto mais próximo da minha residência, próximo também ao final/retorno da linha.

Ao total, foram percorridos cerca de 221 km em torno da ilha, com duração aproximada de 10 horas dentro dos veículos de transporte coletivo.

 

 

 

 

 

 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Projeto realizado pelo Governo do Estado de Santa Catarina por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC) com recursos do Governo Federal e da Lei Aldir Blanc